Tuesday, November 08, 2005

"Deve ser para verem a vida do lado direito. Ou o lado direito da vida."

"Há sempre mais qualquer coisa para lá da realidade que nós vemos. O essencial é invisível aos olhos, como dizia a raposa ao Principezinho. Gosto de enigmas porque acredito que os consigo resolver. Se eu fosse personagem de um livo era de certeza a Raposa do Principezinho. Aquela que sabe viver com tudo o que tem, mesmo com a ausência daqueles que ama. Aquela que sabe que nada é perfeito mas que sonha com a perfeição. Aquela que tem sempre tempo e amor para os amigos. Que cuida das flores mal educadas e de rapazinhos confusos. Aquela que ama a cor do trigo porque o trigo tem a mesma cor dos cabelos do rapaz que ela ama.
Eles conheceram-se de uma maneira engraçada, ao acaso, como quase sempre acontece com as pessoas que se tornam mesmo importantes na nossa vida. A raposa encontrou-o quando ele estava deitado a chorar num jardim cheio de rosas. Tinha acabado de descobrir que a sua rosa não era a única no mundo. Quando chegou cá abaixo à terra, afinal havia milhões de rosas iguais à sua. E entristeceu-se, porque aquilo que ele pensava que era raro e absoluto se revelou como algo de comum e relativo. Foi então que apareceu a raposa; ela andava à procura de galinhas e ele à procura de amigos, por isso pediu-lhe para brincar com ele, mas ela explicou-lhe que não podia, porque não estava presa a ele. Entre os dois, ainda não havia nenhum laço. Aquela Raposa era mesmo muito sábia, disse-lhe coisas que ele nunca mais esqueceu, que lhe serviram para toda a vida. Explicou-lhe que só conhecemos as coisas que cativamos e ensinou-o a saborear as esperas. Se vieres às quatro horas, às três eu já começo a ser feliz. Mas se chegares a uma hora qualquer, nunca sei a que horas devo começar a arranjar o meu coração, disse-lhe. E depois, explicou-lhe porque é que a flor dele era única no mundo, apesar de haver milhões de flores iguais a ela; ela era diferente porque ele a amava. Só se vê bem com o coração disse-lhe. E por fim, antes dele se ir embora, porque ainda era um rapaz muito novo e queria partir porque tinha mais amigos para descobrir e uma data de coisas para conhecer, explicou-lhe que tinha sido o tempo que ele perdera com a rosa que a tornara tão importante e por isso mostrou-lhe que amar também é perder tempo com aqueles que se ama. E pediu-lhe para nunca se esquecer dela, porque ficamos para sempre responsáveis por aqueles que cativamos. Eles não podiam ficar juntos porque queriam coisas diferentes e não há nada mais forte do que a vontade de cada um, mas deixaram um bocado de si no outro e ambos enriqueceram com o que viveram um com o outro."

E será que toda a gente se sente como a raposa sabendo que no fundo é mesmo o principezinho? Ou será que dá para ser os dois? É que se der, eu sou de certeza...

1 comment:

Anonymous said...

Dá para ser o que tu quiseres maninha! *