Sunday, March 27, 2005

Uma da tarde, aeroporto do Hawaii. O sol lá fora é abrasador, os voos com destino a Paris estão prestes a partir. Os funcionários estão todos de calções, camisa e chinelos, o mais confortáveis que podem ficar com o uniforme que nunca lhes pareceu tão pesado como hoje. Mal podem esperar pela hora que o voo parta para finalmente terem um momento de descanso merecido e darem um mergulho no mar que se vê através dos vidros.
Através da porta envidraçada, entram eles. Uma rapariga que deve ter por volta de 28 anos no máximo, acompanhada por um rapaz, que ninguém diria, mas é o seu marido. Ela parece apressadíssima, a falar rapidamente ao telemóvel, com uns óculos escuros, um bikini e um paréo, também de chinelos, com um bronzeado de fazer inveja a qualquer um e um sorriso contagiante. Ele vem na maior das calmas, de calções de banho, chinelos e uma daquelas camisas às flores. Atrás deles, um funcionário do aeroporto que lhes traz o trolley com as três malas enormes e pesadíssimas que, supomos, trazem as coisas dela, porque ele parece muito mais abstraído do mundo.
Chegados ao check-in, todos parecem conhecê-los. Trazem-lhes martinis em copos altos, que ela agradece, sorrindo, parecendo não reparar que todos estão atentos ao mais pequeno movimento do seu cabelo castanho comprido. Ele avisa-a que se calhar estão um bocadinho atrasados, ela despede-se da pessoa com quem está a falar ao telemóvel, que põe na mala, dá-lhe um beijinho e diz "Então é melhor iremos andando não é?". Ele sorri. «Paris não espera!» e entram no avião.

Está no carro, mais um dia de trabalho. O sol está a pôr-se, a única coisa de que nunca abdicou foi de ver o pôr do sol. Mesmo que fosse dentro do carro, no trânsito em Lisboa. No banco do lado, um monte de dossiers com assuntos da empresa, é verdade, era uma empresária muitíssimo bem sucedida, mas muitas vezes questionava se seria isso mesmo que ela queria. Pôs os óculos escuros. Na rádio estava a tocar uma música que nunca gostou muito. Nota mental: nunca mais deixar as miúdas sintonizar o rádio do carro. Ao chegar a casa, já lá estavam as miúdas, a mais pequena veio ter com ela "Mãe já sei escrever o meu nome quer ver?", ele já estava a ler o jornal, o jantar estava feito. Ela foi cumprimentá-lo. «A tua filha quer falar contigo, é melhor decidires tu, nunca percebi muito bem essas modas... tu sabes não sabes?».
"Mãe olhe, fiz um piercing no nariz, o pai quer que eu tire mas agora não posso, não me vai pôr de castigo pois não? Por favoor sabe que era tudo o que eu queria!". Claro que sabia. Mas agora tinha que pensar como mãe não era? Como isso lhe fazia confusão. Inspirou e disse, com a voz mais séria que conseguiu "Discutimos isso ao jantar com TODOS Madalena, agora vai estudar que eu sei que tens teste amanhã e diz à tua irmã para pôr a mesa". A filha revirou os olhos e afastou-se, não sem antes deixar a mãe ver bem patente nos seus olhos verdes o desagrado desta atitude. Ela sorriu, ele sorriu, «Destesto essas coisas» "Eu, com a idade dela, queria fazer um...". Pousou o jornal e ela sentou-se ao pé dele, a contar-lhe o quão terrível tinha sido o seu dia. Ele deu-lhe um abraço, daqueles que sempre lhe dera e que faziam com que parecesse que nada lhe podia fazer mal, e decidiram ver as notícias.
Novo filme realizado e protagonizado por... seria mesmo ele? Aos anos que não o via... Era mesmo! Lá estava ele, a sorrir para as câmaras, lá de Paris ou de New York ou de onde é que ele vivia, a ter a vida que sempre sonhara. A dizer como este filme tinha sido um desafio e a concretização de um sonho, a anunciar que talvez voltasse a Portugal para a estreia, para rever uns amigos.
«Este não era o teu amigo...» "Era." . E subitamente lembrou-se de tudo. Do Hawaii, dos Martinis: De como eles sempre disseram que iam viver quando se casassem. Claro que não iam casar, era impossível, como melhores amigos que eram, mas era aquele "filme" que faziam constantemente. Como ele conseguiu viver como eles queriam. Dos postais que ele manda todos os anos, talvez uma assistente que tenha encontrado a morada dela algures perdida numa das agendas. De como ele devia gostar de conhecer a Madalena. De como tinha saudades dele e de atrofiarem. Ele ainda estava em directo na televisão. Quanto será que custava uma chamada de longa distância para telemóvel? Para seu espanto, enquanto esperava que ele atendesse, viu-o na imagem à procura do telefone.
«Linsday honey I've told you about a gazillon times that...»
"Sou eu."
«Ana?»

Friday, March 25, 2005

A quem a cabeça não vê e o coração só pensa.

Hoje, mais que nunca, acho que tenho aquilo a que normalmente se costuma chamar "saudades". Dou por mim a ver fotografias velhas, a ler textos e a ouvir músicas que me façam lembrar, ou simplesmente a rever momentos vezes sem conta na minha mente... como se fosse um filme onde eu pudesse simplesmente carregar stop, fazer rewind, voltar para trás... e repetir em câmara lenta.
Não sei quanto tempo é que é preciso para se gostar verdadeiramente de uma pessoa, ou pelo menos para nos apercebermos que gostamos verdadeiramente de alguém. É uma coisa que varia. Também não sei quanto tempo é que precisamos de estar afastados de alguém para sentirmos saudades sem se tornar ridículo. Porque também depende do tempo, ou da distância. Ou se calhar só da pessoa.
Fiz uma lista. Tem oito pessoas. A Marta, como é óbvio. Apesar de receber mensagens dela todos os dias, não é suficiente... mas ela, com o seu estatuto de "Melhor Amiga" não me deixa chegar ao ponto da tristeza profunda por não estar comigo... Basta olhar em volta, olhar simplesmente para a esquerda e vejo-a, não a sorrir, mas com aquele olhar por baixo do boné. E aí sinto que não preciso de mais nada. Porque cada uma de nós guarda sempre um bocadinho da outra em si, como boas siamesas que não podíamos deixar de ser.
A Simons, #2 da minha vida, de quem simplesmente não me consigo separar. Se não fosse ela, e aquelas conversas até às 4 da manhã de rir, chorar ou se calhar apenas desabafar tudo aquilo que me fazia confusão na altura, não sei não... sou sempre e para sempre a pita dela, aconteça o que acontecer, e mesmo que ela agora esteja lá na sua terrinha, ou talvez em Lisboa sem me dizer nada, é das poucas pessoas que me acalma verdadeiramente. Sempre.
O Zé... não podia deixar de ser. Não há maneira de dizer tudo o que nós já passámos, tudo o que aconteceu, tudo o que ainda acontece... Como eu já não seria capaz de viver sem ti e como ao teu lado me sinto sempre segura, quer seja no meio da escola (aka. prisão) ou na loja do homem das tatoos e dos piercings ilegais. Obrigada por seres quem és e por me fazeres quem eu sou.
A Bola, porque há 6 anos que foi a minha "primeira amiga" das férias e a partir daí tudo o que já fizemos foi sempre momentos Kodak, daqueles que gostamos de ter fotografados para nunca mais nos esquecermos, e não é por acaso que tenho a nossa fotografia de há 3 anos no Largo Sta. Kuka no placard; porque ainda dormimos as duas na mesma cama quando não nos deixam juntar os beliches, e combinamos a roupa sempre antes de ir para lá, e porque temos os nossos atrofios e músicas e cantamos o "Make Love" enquanto tomamos banho com o Axe verde.
A Bé, por tudo o que já lhe fiz, por tudo o que já me fez, por aquilo que já lhe perdoei e por aquilo que ela já me perdoou, por ainda ter os postais do Magnum cá em casa, por cantarmos as Onda Choc, por me preocupar tanto com ela, por levar comigo os ténis podres para o raid em que chovia, por já se ter passado tanta coisa e por não termos que ser sempre como os outros querem que nós sejamos, e por a estar a ensinar a seguir o coração.
A SL, porque é a minha estrelinha, porque é a miúda mais querida do mundo, porque estas férias não havia nada que mais me alegrasse do que ouvir apenas um "olá sara!" vindo dela, por nos termos fartado de chorar na nossa despedida, porque dia 30 de Abril lhe pertenço, porque ela está na minha Wall Of Fame e não é por acaso.
A Mariazinha, por ser a minha menina de papel, a minha ciumentazinha, a maior surpresa da minha vida... como o Zé disse e bem, esta menina é um bombom. E tudo o que eu possa dizer dela não é suficiente. Porque estes três meses foram mais que suficientes para eu me aperceber o quanto ela é importante para mim (e vai ser SEMPRE).
A Caroline... pois, a Caroline. Que me tem ajudado imenso nestes últimos tempos, e que também se revelou ser simplesmente fantástica... Quem diria, hã? Nós as duas... Acho que há uns tempinhos ninguém dava nada pela nossa amizade e olhem para nós agora. Pelos nossos sorrisos 360, aqueles que eu te consegui contagiar. Por tudo o que fizemos uma pela outra, acho que não há uma única coisa que não tenha feito a diferença (até aqueles filmes terça feira à tarde serviram para agoirar o futuro... nem mais!).
A lista está completa... pois, falta uma pessoa. Mas quanto a essa pessoa que falta, decidi não a incluir na lista de propósito. Porque acho que não tenho bem saudades. Não sei bem o que sinto, ainda estou a tentar perceber. Mas é qualquer coisa que é impossível pôr por palavras, é impossível descrever o indescritível. É um misto de qualquer coisa, não sei bem o quê ainda, e não me vou dar ao trabalho de tentar descobrir... Estou melhor assim, apenas com uma vaga ideia.
Saudades? Mais que muitas. E o único motivo é eu gostar tanto de vocês. Tanto podem estar no Brasil, em Coimbra, em Cascais, em Telheiras, em Madrid, no Norte ou simplesmente a dois quarteirões de distância; tanto posso não vos ver desde ontem, desde quarta feira, terça, desde domingo, desde o fim das aulas, desde há um mês ou desde Outubro... Tenho saudades, pronto.
E sei que estou a ser egoísta, mas quem me dera que estivessem aqui.

Thursday, March 24, 2005

Jack Johnson - Better Together

There is no combination of words I could put on the back of a postcard
And no song that I could sing but I can try for your heart
And our dreams and they are made out of real things
Like a shoebox of photographs with sepia-toned loving
Love is the answer at least for most of the questions in my heart
Like why are we here? And where do we go? And how come it’s so hard?
It’s not always easy and sometimes life can be deceiving

I’ll tell you one thing, it’s always better when we’re together
It’s always better when we’re together
We’ll look at the stars when we’re together
It’s always better when we’re together
It’s always better when we’re together

And all of these moments just might find their way into my dreams tonight
But I know that they’ll be gone when the morning light sings
Or brings new things for tomorrow night you see
That they’ll be gone too, too many things I have to do
But if all of these dreams might find their way into my day to day scene
I’d be under the impression I was somewhere in between
With only two, just me and you, not so many things we got to do
Or places we got to be we’ll sit beneath the mango tree now

It’s always better when we’re together
We’re somewhere in between together
Well it’s always better when we’re together
It’s always better when we’re together

I believe in memories they look so pretty when I sleep
And when I wake up you look so pretty sleeping next to me
But there is not enough time
And there is no song I could sing
And there is no combination of words I could say
But I will still tell you one thing
We’re better together

3ª oportunidade... vamos lá ver! =P

saudades... minha menina tá lá pro Brasil, Mariazinha e Caroline se vão embora, não falo com o Zé desde ONTEM, não sei por onde anda a Bé nem a Simons... Sei não como vai ser! =( Enfim mas agora tenho o Jack pra me subir o astral! =) *

Tuesday, March 22, 2005

Porque É Que A Vida Não É Como Nós Queremos ou Adorote Caroline

"Será que a vida é muito difícil? Será que a vida é difícil ou a vida é fácil e eu vou ser a primeira pessoa a descobrir isso?" Pois é quem não reconhece esta frase? Hoje de manhã, antes de saír de casa, pus-me a ouvir o cd e lembrei-me de ti. Não me perguntes porquê, há coisas que simplesmente não conseguimos explicar só assim, por palavras.
Parece estranho, mas as palavras, aquelas que nos deviam reconfortar nos piores momentos e tornar os melhores momentos ainda mais inesquecíveis, às vezes não nos ajudam assim tanto quanto isso. Às vezes magoam ainda mais. E outras vezes, nem precisamos delas. Se bem me lembro, a primeira vez que nós "falámos" a sério não falámos... ficámos no elevador só a sorrir!
Por me lembrar de ti, por hoje ter estado contigo, por já termos falado ao telefone depois disso, por tu me aturares aquela pancada, por eu te poder ouvir, por confiar em ti, por confiares em mim, por te estares a tornar verdadeiramente importante, porque me sinto orgulhosa de cada vez que falo de ti, ou que penso em ti, por te poder chamar verdadeiramente minha amiga e saber que ainda está muito mais por vir aí. Por tu precisares de mim agora.
Por tudo isto, por muito mais. Sabes o que eu queria? Muitas vezes, desaparecer. Mas não era sem ir para lado nenhum, era para ir para um sítio perfeito... e levava comigo toda a gente que me faria falta lá no tal sítio... e pronto eramos felizes para sempre! Isso era outra coisa... eramos todos felizes! Não sempre, senão fica tudo chatíssimo, mas quando era preciso. E havia sempre música em todo o lado... a mais indicada para cada ocasião. E podíamos ficar toda a manhã a anhar no Bom Bolo sem ter que ir para as aulas e até estarmos fartas de estar lá sentadas. Claro, podia dizer o que quisesse quando quisesse. Os meninos gostavam das meninas que gostavam deles - e como isto mudava tanta coisa! Pelo menos não havia aquelas crises amorosas... Enfim! Também não se falava de coisas tristes... Ou pelo menos não eram temas de conversa de horas no café ou assim...
Se há coisa que eu aprendi ultimamente foi a não pensar demais. A passar a acreditar nos primeiros impulsos, porque apesar de serem como bolas de sabão, às vezes são os impulsos que nos levam a fazer a coisa mais acertada... Mas como são isso mesmo, impulsos, não lhes ligamos. Acho que tudo faria muito mais sentido se nos deixássemos sempre levar pelos impulsos. Ia ser tudo como nós verdadeiramente queremos! Só que na altura... deixa-se passar.
Como alguém me disse uma vez, nunca temos tempo para fazer todos os erros possíveis na vida, por isso temos que aprender com os dos outros. Aprende agora com os meus. Essas coisas são todas muito complicadas que metem a cabeça e o coração e que nos deixam confusos... que metem sentimentos contraditórios, que nos levam ao desespero muitas vezes, por não sabermos o que verdadeiramente queremos! Faz sempre aquilo que achares que é o melhor na altura, mesmo que no segundo a seguir te arrependas. Não penses no que os outros podem pensar e dizer, pensa só em ti. Tenta ser egoísta por um bocadinho. Acho que percebes do que é que eu estou a falar!
Já estou a escrever demais... Tu estás cheia de sono! Por me pores a pensar nisto, por seres uma querida, por teres aquela paciência, por sorrires quando é preciso, por falares comigo quando eu peço, por olharmos pela janela, por ouvires aquela música que eu detesto mas que não consigo parar de cantar. Por seres uma querida e por estares neste momento à minha espera. Porque não vou reler isto e não sei se faz algum sentido, porque de certeza que percebes o que eu te quero dizer.
Adorote Caroline.

Sunday, March 20, 2005

When you slowly close your eyes... Replay the moments in your mind... I just can't give it away!

(o Give it Away, desculpem lá... diz tudo.)

Não tive a coragem para fazer o que realmente queria. Talvez por pensar que não valia a pena... Talvez por ter a certeza que a partir de agora, nada vai mudar. Ou se mudar, é para pior. Infelizmente para mim e para os que me têm que aturar... Enfim... A Marta vai amanhã para o Brasil, acho que isso só está a piorar o meu estado e à medida que o tempo vai passando, vou ficando cada vez mais triste... Nada neste momento me anima... que sensação péssima... bah! E pronto... boas férias ou assim.

"Cada vez o "nós" perde mais o sentido,
Substituído o plural pelo singular,
(...)
Pergunto-me se a culpa foi minha?
Mas todo o mal que viste em mim,
Foram apenas gestos confusos e inexperientes,
Por te amar - e amo - tanto.
(...)
Sabes? Talvez não saibas o que é amar,
Talvez não gostes que te amem - e eu amo - mais que tudo.
(...)
Deixa-me viver - porque sem ti já não é possível,
Volta... dá-me a parte de mim que levaste."

"o meu coração obriga-me a amar-te, a minha cabeça quer que eu te odeie... a minha cabeça quer apenas que me lembre do vazio em que me deixaste, mas o coração quer amar-te!"

s o u l s h i n e * - é tudo o que precisam

Hoje é dia 20. Não me perguntem porquê, mas há qualquer coisa no dia de hoje que me diz que vai correr de maneira diferente, esperamos para melhor. Espero. É hoje que vou tentar mais uma vez, desta vez com a sensação de que sei para que é que vou tentar, sei as circunstâncias e não estão propriamente a meu favor... Mas sim, mais uma vez vou tentar. E só porque é dia 20.
O simples facto de me ter apercebido do dia de hoje, de a Marta ir só amanhã para o Brasil e de eu pura e simplesmente já não aguentar mais deu-me uma vontade redobrada de resolver tudo hoje.
Se vai correr bem? Não sei, ninguém sabe. Se corresse, já era bom.

Thursday, March 10, 2005

"I just want you to know I understand why you have to do this.." «Thanks» "But I wish you didn't have to!" «Me too...» "I love you."

Maybe I'm amazed at the way you love me all the time
Maybe I'm afraid of the way I love you
Maybe I'm amazed at the way you pulled me out of time
and hung me on a line
Maybe I'm amazed at the way I really need you

Maybe I'm a girl and maybe I'm a lonely girl
who's in the middle of something
that she doesn't really understand
Maybe I'm a girl and maybe you're the only man
who could ever help me

Baby, won't you help me understand

Maybe I'm amazed at the way you're with me all the time
Maybe I'm afraid of the way I leave you
Maybe I'm amazed at the way you help me sing my song
Right me when I'm wrong
Maybe I'm amazed at the way I really need you

"O tempo é traiçoeiro. Passam-se meses, até anos, e nada muda na nossa vida, nem um bocadinho. Não vamos a lado nenhum, não fazemos nada de novo, nem temos pensamentos novos. Mas há um dia, hora ou segundo em que somos apanhados e muda tanta coisa que parece que nascemos de novo, numa pessoa que pensamos nunca poder existir. (...) já me tinha esquecido como é que se sorria, mas no momento em que ele me disse o seu nome, lembrei-me de como era."

Saturday, March 05, 2005

" - Tu foste simpático comigo e eu não fui simpática contigo. E isto provavelmente fez-te pensar que eu não tinha... que eu não estava... - Andava às voltas num pequeno círculo e depois aproximou-se para o enfrentar. (...) - Pensaste talvez que eu não gostava de ti mas a verdade é que... (...) - Mas a verdade é que talvez não significasse nada disso. Talvez afinal significasse... totalmente o oposto. (...) - Portanto, o que eu estou a dizer é que gostava de não me ter portado assim contigo. Gostava de não me ter portado como se não gostasse de ti ou me estivesse nas tintas, porque na realidade... na realidade... eu não quero saber de como poderia parecer que pudesse sentir.
Fitou-o com um olhar suplicante. Tinha tentado, palavra que tinha. Mas aquilo era o melhor que conseguia."

Friday, March 04, 2005

Quando se entrava no quarto, antes de mais nada reparava-se na parede da direita. Aquilo que tinha começado com o placard de cortiça tinha-se expandido pela parede, e eram bem visíveis as marcas das mudanças que tinham ocorrido nos passados 3 anos que antecederam aquele dia. Via-se um bocado de tudo, um bocado da sua vida, fotografias de amigos que já foram, desenhos de há muito tempo, bocados de banda desenhada, anúncios, fotografia da turma, o nome de alguém, o cartaz de um filme. Todas estas pequenas coisas foram-se acumulando ao longo da parede, que parecia ficar cada vez mais pequena para a imensidão de coisas que se iam acumulando e da necessidade crescente de as mostrar a todos aqueles que deixava ver a parede.
A pouco e pouco, a parede foi-se tornando insuficiente, e começou o ciclo normal das coisas: tirar umas coisas para pôr outras, as mudanças normais que fizeram com que a parede ficasse despida, com uns espaços em branco que já ninguém conhecia. Depressa esses espaços foram preenchidos com outras coisas, decerto mais importantes, que aos 13 anos não ligava e aos 14 já lhe pareciam fulcrais.
Mas naquele dia, qualquer coisa lhe parecia estranhamente errada. A parede já não lhe dizia nada... A parede, que outrora fora a parte que mais gostava, aquela parte para a qual olhava durante horas a fio, parecia-lhe desinteressante. Já a conhecia mais que bem, mas não sentia que lhe fizesse tanta falta como antes, a parede, que tinha sido o sítio mais importante e de que mais gostava do seu quarto, já não o era, e isso não fazia sentido. A algum custo e talvez com lágrimas nos olhos (porque era uma parte da sua vida que ficava agora definitivamente para trás), começou a arrancar tudo por uma ponta e a partir daí tornou-se menos difícil. Quando acabou, ganhou coragem e olhou.
A parede estava branca... Absolutamente branca, mais do que se lembrava. Sentou-se no chão a olhar para ela. Não tinha nada, excepto uma frase que se tinha esquecido de tirar.
"Gosto das coisas de que tenho saudades. Esqueço-me das coisas de que não gosto."

Thursday, March 03, 2005

Sofia. Ana Sofia, para sermos mais exactos. Quis o destino e mais alguém, talvez, que eu me encontrasse com ela. 13 anos de diferença, alias 13 anos e um mês, porque ela faz anos no dia 20 de Novembro. Além disso, o chamar-se Ana Sofia não me passou ao lado... han, porque será?
Enfim, mais uma pessoa que me marcou. Fiquei absolutamente fascinada com ela, e desviei imediatamente a minha atenção dos Morangos com Açúcar... Conversámos imenso, e a minha mãe já se estava a perguntar se nós não seríamos grandes amigas que por acaso (ou não) se encontraram ali. Falámos sobre ela ter desistido do ballet por ter tido um acidente de mota, da música, da Marta, da escola, de ter uma vida sempre a fazer o mesmo, das mães, dos namorados, de ser aero-moça (até isso ela já tinha sido!!) e do futuro... ou pelo menos daquilo que eu espero que seja, daquilo que ela queria que fosse o dela e que não pode ser, de perseguir os nossos sonhos, o meu incentivo a ela quebrar a rotina e fazer uma coisa de que gostava imenso e sobretudo do desconfortável que era ir ao médico...
Fiquei mutíssimo feliz por a ter encontrado, por ela se ter cruzado comigo e eu com ela, por me ter impedido de ver os Morangos (o que eu ia fazer!!!!!). A minha mãe, claro está, cismava que eu já a conhecia praí de há anos e que éramos bests... e eu "mãe aeromoça, 29 anos... não sei porquê mas acho que não havia muitas maneiras de eu a conhecer."
Mas sabem que a cara não me era estranha... Se calhar já a tinha visto. À Ana Sofia, 29 anos, 30 no dia 20 de Novembro. Que provavelmente não volto a ver. Ou talvez volte, quem sabe.