Tuesday, August 19, 2008

o que não vimos

Ele era um cavalheiro todo ele transpirava elegância
Ela era gata borralheira tivera que limpar a sua infância
Ele viajava no verão e esquiava no inverno
Ela trabalhava ao balcão de um qualquer estabelecimento moderno

Ele gostava de reluzir em si o estilo da capital
Ela já não conseguia distinguir as cores da bandeira nacional
Ele tinha entre os seus títulos uma futura ordem do infante
Ela achava o levantar do dedo mindinho algo deselegante

Mas ele um dia curvou-se a seus pés

Ela passou a ocupar o tempo a descobrir o que era a cultura
E ele confinou-se aos seus aposentos e descobriu a costura
Ela quis saber entender o universo e começou a ler Platão
E ele resolveu perceber o que era a justiça em frente à televisão

A ele de nada lhe valeu a aparência nem a casa do largo do Rato
Porque ela sabia que era Cinderela e enganou-o com um sapato
Ele que um dia fora príncipe agora rendia-se à evidência
Com mulheres que calçam o 40 é melhor revelar prudência

Hoje ele ainda beija seus pés.


Os Pontos Negros

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