"Escrevi o teu nome e o teu número de telefone numa página da agenda...", leio pela milésima vez esta crónica e nunca me canso, nunca, nunca.
Eu cá, escrevi o teu nome nas paredes. Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas. Aqui está outra vez, estas palavras não me pertencem. Mas escrevi em mil folhas de papel que depois rasguei aos bocadinhos e atirei do cimo do viaduto Duarte Pacheco, do Aqueduto das Águas Livres, teria atirado da Ponte 25 de Abril se lá se pudesse ir a pé. Na esperança de que, largando o teu nome, te largasse de vez.
Mas já perguntava a Julieta a si própria, sem saber que o Romeu a ouvia, what's in a name? E o teu nome era para mim não o melhor de todos mas o que me dizia mais, sobre o qual eu podia dizer parvoíces do tipo que faz o meu coração cantar, ou que soa como um dia de sol no inverno. Como se fosse preciso. Mas rasguei-o em bocadinhos tão pequenos que alguém que quisesse voltar a montar o puzzle do teu nome não conseguia. Irónico, não é?
Agora diz-me tanto como qualquer outro, o Senhor de Tal perguntou por si, ai sim, nunca ouvi falar, ou melhor acho que ouvi, o nome não me é estranho mas já foi há tanto tempo que nem tenho a certeza. E no momento em que eu te vir, direi que o de Tal não era mais do que um entre os outros, e que bonito que foi, mas agora já passou, nem me lembrava do teu nome, quanto mais da tua cara.
Mas isto seria daqui a muitos anos, agora está a ficar frio e tenho que me ir embora. Confesso que tenho pena de largar o teu nome, mas questiono-me se também tiveste pena quando largaste o meu. Se te deste ao trabalho de o ir espalhar pela cidade, para alguma outra pessoa o encontrar e ser feliz com ele, ou se simplesmente amachucaste o meu papel e o deitaste pela sanita. Só queria que tivesses tido cuidado com ele, que o enviasses a alguém numa carta registada sem remetente. Usa e passa ao próximo.
Sinto-me bem enquanto volto a entrar no carro e confesso que já não sei mesmo o teu nome. Ficou perdido em Lisboa. Que bonita alegoria, perdido em Lisboa agora que eu me vou embora daqui. Talvez o encontre quando voltar. Ou se calhar não vale mais a pena procurar as peças para voltar a montar o nosso puzzle.
1 comment:
Eu já tinha percebido que era isto que fazias até altas horas da noite. Love kills...
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