Thursday, December 22, 2005

Quando acordou disseram-lhe que faltava meia hora para o comboio parar. Olhou pela janela, mas a noite não deixava ver mais do que luzes lá fora. Levantou-se e foi à casa de banho, e quando voltou e estava a arrumar as coisas para sair parou para pensar pela primeira vez no que tinha feito, no que ia fazer.
Sentou-se, pegou na mochila pequena. Estava lá tudo: passaporte, o bilhete de avião, a carteira e a identificação, o mp3 com as músicas que não queria deixar de ouvir, enfim, tudo o que precisava. Vestiu o blusão, afinal estes sítios eram frios e ainda por cima já não era cedo...
O comboio parou, saíu para o aeroporto. Estava ainda mais frio do que pensava... Olhou para o relógio, três da manhã. Nada mal, ainda tinha uma hora e meia...
Chegou e sentou-se a fumar um cigarro. Era isto que queria. Sem ninguém, sem nada que prendesse a lado nenhum. Uma alma livre, como alguém uma vez lhe tinha dito. E agora ia, à sua conta e risco, conhecer o mundo, como sempre quis. Sem ninguém a atrasar, nem ninguém a tentar evitar. Claro que a saída tinha sido brusca e repentina, não se despediu de ninguém, não disse nada, só um bilhete para evitar confusões. Era assim que queria viver a partir de agora, pensou. Sem laços, sem nada. E quando sentisse que precisasse de voltar, voltava.
A última coisa que lhe tinham dito antes de partir, foi que ainda bem que não se tinham apegado muito. Que tinham percebido a tempo e que puderam evitar sofrer desnecessariamente. Que sendo uma pessoa assim, ainda bem que não deixava as pessoas criarem laços... E assim ficou a pensar, antes de partir para qualquer lado longe de tudo, longe de todos, longe até mesmo de si.

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