Último dia em Lisboa.
É uma da manhã e eu sem saber o que fazer. A minha cabeça está na maior das confusões e não há perspectivas que isso mude tão facilmente quanto eu queria. Daqui a umas horas, que com o sono se vão revelar poucas, vou estar de partida. Vou ficar duas semanas fora, num sítio onde nada nem ninguém me pode atormentar (se ao menos eu não levasse o telemóvel...) e para onde vou descansar. Saír desta cidade e não aturar mais esta gente porque estou farta.
Não me leves a mal, eu amo a cidade. E as pessoas. E se calhar o meu problema é esse. Não é o de todos? Gostar demasiado de quem não devemos e não saber gostar de quem gosta de nós. Prefiro não pensar nisso, levo a cabeça cheia de coisas que gostaria de deixar por lá, enterradas na areia branca ou talvez dispersas numa onda qualquer que venha e que as leve para longe, muito longe...
Há bocado peguei numa folha de papel e escrevi. Despejei tudo o que estava a sentir naquele momento em que todas as confusões que me perturbavam e todas as dúvidas que me assaltavam se misturaram e formaram qualquer coisa que explodiu e que não me deixou continuar a aparentar a mesma calma de sempre. Depois de escrever tudo senti-me mais calma, e mais segura de que os próximos 15 dias me vão fazer bem. Não para esquecer nada, nem para fingir que as coisas não existem para depois quando voltar dar de caras com os mesmos problemas, quem sabe talvez agravados. Preciso de saír, de me afastar, para saber melhor aquilo que eu hei de fazer.
Não posso simplesmente fugir aos meus problemas. É como na Cidade de Deus 'Se fugir o bicho pega, se ficar o bicho come'. Não há muitas alternativas pois não? Agora o que eu quero mesmo é dias de sol e de praia, de acordar tarde e de me deitar tarde, de sentir o cheiro da praia à noite, de ver o mar, de ouvir os grilos, de passear, de dar uns mergulhos e de torrar ao sol. Quero isto tudo e tenho a certeza que é isto que vou ter. Acordar as onze para ir para a praia, voltar às duas, almoçar, escrever, apanhar sol no jardim, tocar guitarra, voltar para a praia, chegar a casa às oito da noite vinda da praia, tomar banho e ir jantar fora e depois voltar para ir dar uma volta. Ouvir a minha música e tirar as minhas fotografias, quem sabe conhecer mais gente, mas não é esse o meu objectivo. Não me quero meter de maneira nenhuma em nada, quero descansar e quero principalmente descansar a minha cabeça.
Estou convicta do que quero mas num segundo as minhas certezas desvanecem-se, simplesmente por ver uma fotografia de duas meninas num escorrega. As saudades, já me esquecia delas. Vou ter saudades, daí levar o já tão conhecido bebé comigo, senão deixava-o em Lisboa. Mas também como é que posso pensar em deixá-lo 15 dias sozinho? Não posso. Vou e vamos os dois. E a guitarra, a máquina, os meus cds. Sorrio ao pensar que levo tudo comigo, quase tudo, quase que me esquecia duma parte fundamental que vai comigo para todo o lado. Pronto arrumado. Agora sim.
Agora é uma e meia e eu penso em deixar Lisboa.
1 comment:
miss you Sarinha.. foste te embora e nem me disseste nada sua desnaturada! Bem, mas não vim aqui pra te chatear e pelos vistos já tens a cabeça cheia de coisas.. Só vim pedir um espacinho pra mim mana :) É que gosto TANTO de ti..
*
Post a Comment