Já é a terceira vez que escrevo hoje e ainda nem percebi bem porquê... Acho que simplesmente o facto de eu andar triste (ou se calhar só não tão contente como costumo estar) me põe a pensar, e como não me apetece falar com ninguém...
O Zé diz que eu estou a crescer. Que gosta de me ver assim, que eu o surpreendo sempre. Acho fantástico isso, porque eu não me sinto a crescer. Não devíamos sentir? E será que é só por eu me ter consciencializado que fiz muita coisa que não devia ter feito e que a vida não é como eu quero que cresci? Se calhar...
Gostava imenso de poder acordar um dia e ver como é que as coisas seriam por aqui sem mim. Não para ver se fazia falta, mais se calhar para ver de que maneira é que afecto ou não alguma coisa. Se calhar o João tinha outra irmã. Se calhar a Marta tinha outra melhor amiga. Se calhar este quarto era o escritório do meu pai. Era tudo tão diferente... Mas se as coisas estão assim é porque é assim que devem estar.
Será que cresci mesmo? Como é que eu cresci? Esqueceram-se de me avisar... A sensação é a mesma como quando no sábado fui apresentada a alguém como a namorada do Diogo: "ai sou? Que giro, esqueceram-se de me avisar." Mas parecia que era a única que não sabia, porque estavam todos perfeitamente convicitos disso.
Os dias passam e com eles passa a vontade de sorrir, de olhar o dia seguinte como um em que podem acontecer mil e uma coisas e passamos a ver tudo como rotina. Às vezes penso que não basta muito para que essa mesma rotina seja quebrada, tenho medo que aconteça alguma coisa de horrível e que tenham ficado palavras por dizer, canções por cantar, textos por escrever, abraços por receber, sorrisos por dar. Mas acho que não podemos controlar isso.
Sento-me no puff cor de laranja com a minha guitarra, começo a tocar uma música da Anouk e a trauteá-la baixinho. Não consigo cantar enquanto toco, ainda me troco toda com isto. Subitamente queria saber tocar tudo, tocar qualquer coisa que exprimisse o que eu sinto. Queria tocar Nirvana. Queria falar com o Kurt e perceber o que é que ele sentia. Acho que mais facilmente começava a tocar bem do que falar com ele. Pode ser que um dia, no céu. Ou em qualquer outro sítio para onde ele tenha ido e para onde eu também devo ir. Quero tocar o Circo de Feras. Não encontro os acordes. Desisti.
Ontem acordei cedo. Saí do meu quarto devagarinho e desci as escadas. Fui até à janela da cozinha ver a rua. Fiquei ali, a ver os autocarros a passar, os pássaros a voar e o sol a nascer ainda bem lá longe. Os meus pés estavam a ficar frios por causa dos azulejos do chão, mas fiquei ali só mais um minuto. Quando ficou mesmo muito frio, olhei para o relógio. Era mais cedo do que eu pensava. Voltei a subir as escadas, abri a porta do meu quarto, ao fundo do corredor. A Marta estava a dormir, sem sequer ter reparado que eu tinha saído. Sorri. Pensei em ligar o despertador, se chegássemos atrasadas era o fim, mas não o fiz. Voltei a deitar-me, para acordar umas horas depois.
Vesti o pijama, olhei uma última vez para o telemóvel. Nenhuma mensagem. Já me tinha despedido de toda a gente, era hora de dar por terminado o meu dia e desansar. No fundo, era disso que precisava. Para dormir, e acordar talvez mais crescida que hoje.
1 comment:
perfectly fetch!
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