Há decisões que, tomadas de cabeça fria, se tornam muito mais fáceis. Mas fazem menos sentido.
Há um ano, dois anos, três anos, quatro anos, cinco anos atrás que hoje seria a véspera do dia mais aguardado do ano. Do dia em que começava a colónia. Ano após ano aprendemos a tomá-la como certa, a partida do Jardim dos Prazeres às 3 da tarde do segundo sábado do mês de Agosto. Escolher a roupa com semanas de antecedência, “não vou se não fores”, o ver gente nova, conhecidos só de cara e aqueles a que chamamos amigos, a ida na camioneta, o chegar ao campo, cravar para nos levarem as malas, escolher a camarata, o primeiro jantar (ai o hamburguer é que não me faz falta), o ligar aos pais a dizer que chegámos bem, mas eles já sabem porque sabem que lá é que estamos realmente bem, a hora depois do jantar, o jogo para nos conhecermos, o irmos para as camaratas e depois...
Acordar as 8 mas atrasar sempre até às 9, os beliches, o pequeno almoço e a mousse, o rio, as camaratas, o parque infantil, o anfiteatro, o C1, a sala de convívio, os barracões, o refeitório do Reis, o almoço, as cantorias, abafar putos e calar idiotas, o gelado, as suecadas, o campo pelado, o cluedo, as festas, a corda do tarzan, o rappel suspenso, a escalada, as BTT, as canoas, as piscinas, a Lousã, os risos, as músicas, os lanches, os banhos de mangueira, o balneário, a parede do balneário, sujar os pés, vestir, jantar, o depois do jantar, a fofoca, o cluedo, o filme, as conversas, os banhos de lua, os raids, o medo, os cafés com coca-cola, o vale escuro, a igreja, o cemitério, os walkie-talkies, as bolachas maria, a nutella, as gomas encarnadas, os armários cheios de bolachas, os trocares de roupa, o dia de pintar as unhas, o jantar de gala, o baile de gala, o último dia, o torneio de futebol, a última noite, o fogo de campo, o choro, as fitas, as pessoas que nos marcaram, a falta que vamos sentir, a noite sem dormir, a viagem de volta, Lisboa, o Jardim dos Prazeres, o cansaço acumulado, despedirmo-nos de todos, "na certeza de que pró ano havemos de cá voltar"...
Custa-me bastante, acreditem que sim. É como se me tirassem uma parte de mim, que estou tão habituada a conhecer e a tomar como certa. Mas tínhamos que crescer e um dia este dia ia chegar, era inevitável. Tenho pena de saber que o campo já não está como nós o conhecemos, mas vamos guardá-lo exactamente como era. Com os beliches velhos, os armários de sempre (fico com o de cima do lado esquerdo!), a parede do balneário, o ACM gigante, a fogueira da amizade, as placas das ruas que eram de todos: o Largo Santa Kuka, a Avenida dos Vigias, a Alameda dos Baloufos, a NOSSA B2, a tenda do refeitório, a sala de convívio que se transformava brutalmente. O campo vai ser sempre o nosso. E embora me custe horrores pensar que não vou passar os melhores 15 dias, aqueles que sempre serviram para nos afastarmos do mundo e ficarmos ali, naquele sítio só nosso, hoje só consigo pensar que as coisas que lá passámos significam tudo. E que por isso mesmo, nunca vamos deixar de lá ir.
Mas sempre, pra sempre...
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