Friday, August 10, 2007

There's a place that meant the world to everybody like me.

Há decisões que, tomadas de cabeça fria, se tornam muito mais fáceis. Mas fazem menos sentido.

Há um ano, dois anos, três anos, quatro anos, cinco anos atrás que hoje seria a véspera do dia mais aguardado do ano. Do dia em que começava a colónia. Ano após ano aprendemos a tomá-la como certa, a partida do Jardim dos Prazeres às 3 da tarde do segundo sábado do mês de Agosto. Escolher a roupa com semanas de antecedência, “não vou se não fores”, o ver gente nova, conhecidos só de cara e aqueles a que chamamos amigos, a ida na camioneta, o chegar ao campo, cravar para nos levarem as malas, escolher a camarata, o primeiro jantar (ai o hamburguer é que não me faz falta), o ligar aos pais a dizer que chegámos bem, mas eles já sabem porque sabem que lá é que estamos realmente bem, a hora depois do jantar, o jogo para nos conhecermos, o irmos para as camaratas e depois...
Acordar as 8 mas atrasar sempre até às 9, os beliches, o pequeno almoço e a mousse, o rio, as camaratas, o parque infantil, o anfiteatro, o C1, a sala de convívio, os barracões, o refeitório do Reis, o almoço, as cantorias, abafar putos e calar idiotas, o gelado, as suecadas, o campo pelado, o cluedo, as festas, a corda do tarzan, o rappel suspenso, a escalada, as BTT, as canoas, as piscinas, a Lousã, os risos, as músicas, os lanches, os banhos de mangueira, o balneário, a parede do balneário, sujar os pés, vestir, jantar, o depois do jantar, a fofoca, o cluedo, o filme, as conversas, os banhos de lua, os raids, o medo, os cafés com coca-cola, o vale escuro, a igreja, o cemitério, os walkie-talkies, as bolachas maria, a nutella, as gomas encarnadas, os armários cheios de bolachas, os trocares de roupa, o dia de pintar as unhas, o jantar de gala, o baile de gala, o último dia, o torneio de futebol, a última noite, o fogo de campo, o choro, as fitas, as pessoas que nos marcaram, a falta que vamos sentir, a noite sem dormir, a viagem de volta, Lisboa, o Jardim dos Prazeres, o cansaço acumulado, despedirmo-nos de todos, "na certeza de que pró ano havemos de cá voltar"...

Custa-me bastante, acreditem que sim. É como se me tirassem uma parte de mim, que estou tão habituada a conhecer e a tomar como certa. Mas tínhamos que crescer e um dia este dia ia chegar, era inevitável. Tenho pena de saber que o campo já não está como nós o conhecemos, mas vamos guardá-lo exactamente como era. Com os beliches velhos, os armários de sempre (fico com o de cima do lado esquerdo!), a parede do balneário, o ACM gigante, a fogueira da amizade, as placas das ruas que eram de todos: o Largo Santa Kuka, a Avenida dos Vigias, a Alameda dos Baloufos, a NOSSA B2, a tenda do refeitório, a sala de convívio que se transformava brutalmente. O campo vai ser sempre o nosso. E embora me custe horrores pensar que não vou passar os melhores 15 dias, aqueles que sempre serviram para nos afastarmos do mundo e ficarmos ali, naquele sítio só nosso, hoje só consigo pensar que as coisas que lá passámos significam tudo. E que por isso mesmo, nunca vamos deixar de lá ir.

Mas sempre, pra sempre...

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