Primeiro, nascemos. Somos pequenos e totalmente indefesos perante o mundo grande, tão grande, de um tamanho que tão cedo não saberemos qual é. Choramos para nos fazermos ouvir, e só depois começamos a falar, a andar, a descobrir esse tal mundo que afinal não é mais que a nossa casa e as pessoas que nos rodeiam.
Depois vamos para a escola e descobrimos que o nosso mundo afinal é maior, há mais pessoas, mais países, que a Terra é grande e redonda, aprendemos a escrever e a ler, fazemos desenhos, jogamos à bola e esfolamos os joelhos nas inúmeras quedas, brincamos com as bonecas e imaginamos que a nossa vida vai ser assim, numa mansão cor-de-rosa com um armário cheio de vestidos e um descapotável encarnado. Que vamos ser médicos, pintores, veterinários e astronautas. Descobrimos que se comermos muito bolo de chocolate ficamos enjoados, e que se corrermos de meias pelos corredores escorregamos e caímos.
Até que crescemos mais um bocadinho e sabemos então que a Terra tem 12.760km de diâmetro. Conhecemos mais pessoas, achamo-nos muito crescidos, lemos livros que nos levam a conhecer outros mundos, outros tempos, outras formas de viver e revistas que nos mostram o mesmo mundo visto pelos olhos de outros, viajamos, ouvimos muita música, cantamos e dançamos e aprendemos que vamos crescer, mas talvez não para sermos astronautas ou viver numa mansão.
Um dia, acho que vamos parar, olhar para trás e sorrir ao lembrar tudo isto que já passou e não volta. Nessa altura, espero já ter a minha "mansão", com a tal sala cheia de livros em estantes que vão até ao tecto e milhares de cds. Mas não é preciso chegar a essa altura para constatar que a saudade com que recordamos tantos momentos passados é também a certeza de que fomos felizes. E se o fomos realmente, é graças à pessoa que nos ajudou a crescer. Que nos trouxe ao mundo, que ficava connosco para não chorarmos, que nos ensinou a falar e andar, que nos punha pensos nos joelhos e nos dava um beijinho "já passou?" - para depois nos ver a correr a seguir, que nos lia histórias antes de dormir, que não nos deixava comer demasiado bolo, que nos mostrou que podíamos ser tudo o que quisessemos, que nos levou a viajar, a quem roubámos os cds, que nos diz que temos que crescer e que sabemos que aconteça o que acontecer, vai lá estar sempre.
Sim, chegámos à conclusão que Shakespeare tinha razão. "O que importa não é o que tens na vida, mas sim quem tens na vida". Nós temos-te a ti. Parabéns M.
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