Sunday, December 28, 2008

T.E.

O maior conforto de voltar é saber que há coisas que não mudam nunca. Inexplicavelmente, a maior alegria que ele teve foi saber que havia coisas que mudavam - e que mudaram mesmo.
Não sabia também explicar o porquê, mas pôs o carro no piloto automático e em vez de ir pelo caminho mais curto foi dar uma volta à cidade. Saudades? Talvez. Mas foi parar à porta dela, sem se aperceber ou quem sabe de propósito. A luz estava acesa, ela estava acordada.
Para sermos mais precisos nesta história, ela estava à janela e sabia que ele ia aparecer. Chamem-lhe instinto, chamem-lhe auto-estima, o que quiserem. Simplesmente sabia. Não se viam há quase quatro anos, desde o dia em que ele decidiu ir embora e ela decidiu que desaparecia primeiro, talvez por falta de coragem para ser ela a dizer adeus. Agora tinha outra vida e o facto de se terem encontrado já não queria dizer nada. Se não queria, porque é que ela estava à janela à espera que ele aparecesse? Pior, porque é que ele tinha aparecido? E porque é que isso parecia tão importante? Não era, acreditem.
Olharam um para o outro e souberam. Desta vez é que era, não havia volta a dar. O que tem que ser tem muita força, e eles finalmente estavam em paz com tudo o que se passara.

Todas as histórias precisam de um desfecho. Melhor ou pior, cada uma tem aquele que tem que ter, e nem sempre é o que merece. Este era o deles - ela fechou a janela, ele meteu a primeira e arrancou.

Mas vai ficar tudo bem. FAZ COM QUE TODA A GENTE VEJA O TEU FINAL.

Sunday, December 21, 2008

Saturday, December 20, 2008

Friday, December 19, 2008

L.

Digo:
"Lisboa"
Quando atravesso - vinda do sul - o rio
E a cidade a que chego abre-se como se do meu nome nascesse
Abre-se e ergue-se em sua extensão nocturna
Em seu longo luzir de azul e rio
Em seu corpo amontoado de colinas -
Vejo-a melhor porque a digo
Tudo se mostra melhor porque digo
Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência
Porque digo Lisboa com seu nome de ser e de não-ser
Com seus meandros de espanto insónia e lata
E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro
Seu conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa oscilando como uma grande barca
Lisboa cruelmente construída ao longo da sua própria ausência
Digo o nome da cidade
- Digo para ver

Sophia de Mello Breyner Andresen