Friday, June 04, 2010

quatro de junho

É o principezinho, desde pequenino quando tinha caracóis quase loirinhos e era uma bolinha gorducha com umas pernas que pareciam canivetes. Desde que me lembro que o oiço a rir com trinados como se fosse ficar sem ar, aos gritos porque não gostava de ficar no parque, a correr pelo corredor. Era a coisa mais querida quando não sabia falar muito bem (até, hum, aos seis anos) e me chamava Cá, e eu, menina crescida da primeira classe, ia nos intervalos à sala da infantil porque o petiz passou a manhã inteira a chorar eu-quelo-a-mina-Cá. Chorei quando ele partiu a cabeça e ameacei um miúdo mal cheiroso que lhe queria fazer mal e que nunca mais se meteu com ele (óbvio). Irritava-me até à medula quando eu nem sabia o que era a medula, e me chamava gorda e Sacas e era simplesmente um rapaz e porque-raio-é-que-não-tenho-uma-irmã-para-brincar-às-Barbies, e a minha mãe sempre a dizer que tinha que o tratar bem porque era o meu irmão e já se sabe, vamos ficar juntos para sempre. Morri de medo quando ele caiu na banheira e a culpa foi semi-minha e achei mesmo que ele ia morrer mas na altura nem tive consciência da gravidade disso. Passei-me com ele durante os anos em que eu era uma criança com a mania que era crescida e com o seu quê de insuportável, e ele era uma criança irritante a achar que irritar a mana é o melhor hobby do mundo. Ensinei-o a dizer os L’s e é graças a mim que hoje em dia ele não come wuwas à wuz da wua (apesar de na altura ter sido MUITO contestada pelas autoridades maternais).
Irrita-me profundamente quando diz «ah, olhem para mim, sou a Sara, sou do social, não tenho tempo para mais nada» ou coisas do género mas rio-me e sei que é a brincar. E sei que o irrito quando lhe vou afagar o cabelo como se ele fosse um cachorrinho. Passo-me porque ainda hoje continua a estragar as minhas coisas e a escapar impune, acho que deve ser a sina do irmão mais novo. Ainda me enerva quando deixa os pratos no lava-loiça em vez de os por na máquina, ou quando faz questão de anunciar que sou eu a levantar a mesa e é completamente óbvio, mas às vezes quando chegam as 9 da noite e diz que vai tomar banho e eu já decidi que não me mexo daqui da minha cadeira porque não sou a cozinheira e empregada e taxista e ainda por cima estou doente e estou prestes a dar-lhe uma descasca ele aparece à porta do meu quarto e pergunta «o que é que queres que eu faça para o jantar»?

Não há nada mais compensador do que ter um irmãozinho.

(isto foi escrito dia 16 de Novembro, quando eu estava com uma amigdalite e um mau humor que não se aguentava. Mas hoje é o dia dele - parabéns puto)

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